quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Ontem, hoje, sempre

Como nasce uma amizade? Difícil lembrar o momento exato, mas certos eventos não se apagam com o tempo e somos capazes de presentificá-los com um tal senso de realidade que é possível revivê-los num lapso, trazendo à tona tudo de bom - ou ruim - que representaram.

Optemos pelas boas lembranças; me vem à memória a presença forte e duradoura de Lívia, sempre correta, assertiva, falando do alto de uma comovente dignidade. Às vezes árida, dizendo verdades completas, sem meias palavras, fazendo-nos ouvir nem sempre o que gostaríamos, mas o que deveríamos; às vezes doce, como uma conselheira amorosa - ah, quantos conselhos de amor ouvi dessa preciosa amiga! - sempre disposta a um abraço, um sorriso, uma tirada de humor, ainda que negro...

São muitas histórias a edificar nossa amizade: seu jeito distante, distraído, jogada nos gramados da ECA, sempre às voltas com "aquele" famoso novelista; seu casamento original, do qual tive o privilégio de participar; sua acolhida generosa como minha querida e criativa editora, nossos bolos decorados, nossas publicações de tricô, nossa santa loucura a administrar um borderô ridículo para realizar projetos e transformar qualquer idéia em revista... Mais tarde, a editora virou pintora, virou sorvete, virou livreira, virou lojista...

E foi pra longe, naquele São João onde a minha Boa Vista não alcança, mas alcança o meu coração; e é pra lá que eu ligo e gasto interurbanos aos tubos - não tem jeito dessa criatura lidar decentemente com o gratuito MSN - quando bate uma tristeza, uma dúvida, uma inquietação. No fim, sempre rimos muito, lembramos histórias, nossas pequenas crueldades editoriais, nossa união inabalável - afinal, éramos nós contra "o mundo"...

E assim seguimos, na certeza de que o tempo é só uma ilusão - ontem, hoje, sempre são apenas palavras pequenas a tentar reduzir essa imensidão chamada Vida, que vai nos levando, nos levando... Quando nos damos conta, já se passaram três décadas desse encontro promovido pelo acaso que, sabemos, não existe, já que acreditamos que para tudo na vida existe uma boa razão... Então seguimos unidas, separadas apenas por esse pequeno detalhe chamado distância. Até o fim da linha.






terça-feira, 23 de outubro de 2007

Meus caros amigos


Me acostumei a deixar depoimentos no aniversário de meus amigos mais queridos. Que grande oportunidade o orkut nos proporciona de demonstrar nosso afeto àqueles que contribuíram com seu carinho, seu modo ímpar de ser e de se fazerem presentes em nossas vidas, para que nos tornássemos o que hoje somos!

Criar depoimentos alegra minha alma e purifica meu coração. Em geral, choro a cântaros a cada palavra permeada por doces - às vezes nem tanto - lembranças; me vem à memória os aprendizados, os momentos compartilhados, as dúvidas, as certezas que edificamos juntos ao longo do tempo e um sentimento de serena alegria invade minha alma.

Nesses momentos, tenho certeza de que o humano transcende a matéria e que uma força invisível, maior que as dores e as mesquinharias do mundo, une os seres de natureza semelhante em torno de grandes propósitos, sejam eles edificar a realização de nossos sonhos, tomar uma caipirinha ou simplesmente deixar as horas correrem enquanto revisitamos o passado e revivemos o cenário encantado de nossas ingênuas recordações.

Adoro também distribuir fotos a meus amigos e fico felicíssima quando uma delas decora seus álbuns ou seus perfis. São as pessoas da minha vida retratadas segundo o meu olhar - sempre cuidadoso, sempre amoroso, sempre buscando mostrar o que têm de melhor. Lindas figuras a enfeitar minha existência, sem as quais a vida seria tanto mais árida quanto mais dura. É bom saber que eles se encontram ali e que, mais cedo ou mais tarde, trocaremos beijos e abraços repletos da energia curativa do mais puro afeto.

Por isso, às vezes, sou reservada, recuso convites, "seleciono" as pessoas para que venham integrar meu "time de ouro". Meu pai sempre insistiu no ditado que diz que uma laranja podre estraga toda a caixa; eu sou responsável pelas pessoas que trago para o convívio dos meus entes mais queridos e levo a sério essa missão.

Antes de "add" alguém, tenho o cuidado de ter o convidado a meu alcance - é preciso tocá-lo, cheirá-lo, senti-lo. Já não tenho tempo para gente louca nem fútil, quero ao meu lado somente quem valha a pena. Tentei uma vez, não deu certo; minha intuição bem me dizia que amizade é um bem precioso, que não se deve vender barato, mas dar sem nada cobrar àqueles que fazem por merecê-la.

Aos poucos, minha lista vai crescendo. Todos lindos, pedaços de mim, montando o quebra-cabeças da minha singela história. Todos queridos, plenos de significado, dignos da minha gratidão e do meu amor. Todos meus, caros amigos...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Onde o amor se esconde?


Encontros, desencontros. Já reparou que todo mundo busca as mesmas coisas - carinho atenção, alguém para chamar de "seu"? Dizem que o orkut é uma ferramenta útil para promover, como diria o Poetinha Vinícius, a "arte do encontro".

Eu espero esse acontecimento. Não tenho paciência para buscar alguém na multidão; quero recorrer aos filtros da faixa etária, dos gostos similares, do modelo de mundo alinhado, das grandes esperanças. Quero gente séria, presente, que se responsabilize por seus sentimentos de forma a ter algo a oferecer. Busco alegria, paixão, um veneno antimonotonia. Alguém de coração livre, puro, com espaço para acolher uma overdose de afeto.

Mas, não é o que todos procuram? A maioria repete estes clichês; contudo, na prática, sua teoria é bem outra... Amor é compromisso de alma, só quem tem uma é capaz de amar. Gente desbotada, cansada, maldosa ou doente não tem tempo para ser feliz. Gente que "agita e usa" e não cria laços em nome de um distorcido senso de liberdade não escolhe nunca o caminho do amor.

Amar requer serenidade, persistência, doação. É preciso crescer, amadurecer, cuidar, acarinhar. Quem busca com alma e coração, certamente encontra o que procura. E assim há de ser para todos os que compartilham desse justo desejo.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Para que serve o orkut?


Eis a pergunta que não quer calar... Para que serve esta nova mídia que torna públicos momentos, idéias e afetos? No início, eu mesma não entendia - olhava para a tela, desconfiava um pouco... mais um espaço a ser preenchido neste mundo já tão cheio de formulários, documentos, obrigações...

De repente, fui encontrando sua utilidade: "rever" amigos, saber das novidades, estar plugada às gerações mais jovens (sobrinhos, filhos de amigos, alunos, coleguinhas companheiros de estudos vários), construir um sentido compartilhando pensamentos, fatos, eventos. E deixar o registro disso tudo para recordar alegremente nos momentos em que a privacidade insiste em se confundir com solidão...

No começo, premida pela idéia de que o orkut era um espaço "perigoso", deletava os recados junto com minhas bonitas recordações feito uma transgressora que não pode deixar rastros nem pistas; depois parei, refleti - afinal, que terrível transgressão consiste em ter amigos, uma história, ser feliz, enfim?

Não se trata de almejar visibilidade nem os famosos 15 minutos de fama; as amizades que ilustram minha lista vêm sendo amealhadas ao longo dos anos e vêm durando muito mais do que isso. Têm significado real, nada de sentimentos virtuais. Pessoas de carne e osso, com texturas, aromas, sabores, que às vezes, por falta de oportunidade, eu alcanço somente através de um recadinho, um vídeo, uma foto. Mas estão ali, todas lindas, arrumadinhas, amores potenciais que se desrealizam, atualizam e realizam continuamente. Penso que é para isto que serve o orkut...

Mês de aniversário


Hummm... mais uma primavera se aproxima... E eu antecipo a celebração no finalzinho do inverno, em meio a múltiplos festejos, reunindo pequenos grupos, decretando, assim como o Carrefour, meu "mês de aniversário"...

Sempre adorei essa data e o tempo não modificou isso; lembro dos preparativos cuidadosos de minha mãe, o bolo sempre encomendado por meu pai, a (pequena) família reunida: meus pais, irmãos, avó, tios e primos queridos. Mais tarde, na adolescência, a comemoração com amigos "de estimação", muito especiais. Era uma renovação de votos sinceros de felicidade que me abasteciam até o ano seguinte.

Passaram-se os anos e eu procurei, como pude, manter a tradição; mas o desgaste natural provocado pelas pequenas obrigações cotidianas (e algumas companhias equivocadas, diga-se de passagem), fizeram com que, aos poucos, morresse em mim essa alegria. Neste ano, renasci; respeitando minha natureza, minha primavera interior, me ponho a comemorar feito criança; cada sorriso, cada abraço e cada pequena lembrança trazem de volta a energia positiva que vai alimentar minha alma por mais um ciclo. Renovam-se os votos, renovam-se as esperanças; e um clima amoroso e terno se instala revelando, no presente, um futuro pleno de satisfação e realizações.

Obrigada, caros amigos, por sua efetiva e generosa participação na construção destes momentos de felicidade!

sábado, 8 de setembro de 2007

2 paixões: Poetinha e Gatos

O Gato, poema de Vinícius de Moraes:

Com um lindo salto
Lesto e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pega e corre
Bem de mansinho
Atrás de um pobre
De um passarinho
Súbito, pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando tudo
Se lhe fatiga
Toma o seu banho
Passando a língua
Pela barriga.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Yayo: uma palavra AMIGA

Na adolescência, sempre dizia a meu pai que amigos, diferentemente da família, a gente pode escolher. Isso dava, como ele mesmo dizia, "pano pra manga": o gauchão ficava ofendidíssimo, achando que eu não estava satisfeita com a família que sempre se esforçou - e ainda se esforça - ao máximo para que eu fosse feliz.

Nos idos dos meus quinze anos, conheci Yayo, figura doce, a um tempo gentil e forte, alegre e responsável, alguém, enfim, com quem dividir muitas das minhas inquietações juvenis. Crescemos, amadurecemos; a grande amiga me brindou com Marcela, afilhada querida, com quem, hoje, tenho o prazer de compartilhar aventuras e desventuras, num círculo virtuoso, tal como nos tempos de sua mãe.

Tempo? O que é o tempo, senão um ir-e-vir contínuo, repleto de repetições renovadas? Meu tempo é hoje, afirma Mestre Paulinho da Viola. Então, mesmo passados tantos anos, sempre é o momento certo de dizer a alguém que amamos quanto importante é sua presença em nossas vidas. Então eu digo, Yayo querida, que, por todo o nosso passado, você é mais que (um) presente: é a irmã que eu escolheria numa loja, se pudesse comprar uma. Por minha mais livre e espontânea escolha, meu pai e meus queridíssimos irmãos que me perdoem...